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Liberação do acesso venoso central apenas com o ultrassom

– Qual a evidência?

Gabrielle Turnes

15 de mai. de 2025

A liberação segura do cateter venoso central (CVC) guiada exclusivamente por ultrassonografia é uma prática cada vez mais adotada, especialmente em ambientes que priorizam agilidade, segurança do paciente e racionalização de recursos. Após a punção guiada por guiada por ultrassom, duas etapas principais devem ser realizadas para confirmar a correta posição do cateter e excluir pneumotórax, sem necessidade de radiografia.

Primeiro, recomenda-se a avaliação bilateral do deslizamento pleural (lung sliding) antes e após o procedimento para excluir pneumotórax após inserções em veia jugular interna ou subclávia/axilar. A presença de deslizamento pleural bilateral + Linhas A ou a presença de linhas B, consolidações ou derrame pleural descartam a presença de pneumotórax.

Em seguida, a confirmação da posição do cateter é feita através do Teste de Microbolhas (Bubble Test). Ele consiste na infusão rápida de soro fisiológico agitado e visualização do sinal de turbilhonamento no átrio direito (Right Atrial Swirl Sign) em até 2 segundos da sua infusão. A ausência do sinal pode sugerir malposicionamento, exigindo reavaliação.


Essa abordagem permite liberação imediata do CVC com alto grau de segurança. Mas o que falam as evidências?

Trouxemos hoje um estudo publicado na CritCareMed em 2017 sobre o tema.

Ablordeppey et al. "Diagnostic accuracy of central venous catheter confirmation by bedside ultrasound versus chest radiography in critically ill patients: A systematic review and meta-analysis." Crit Care Med. 2017 Apr;45(4):715–724. DOI: 10.1097/CCM.0000000000002188


📌 1. Pergunta do estudo

Pergunta: Em pacientes críticos, a ultrassonografia à beira-leito é tão precisa quanto a radiografia de tórax para confirmar a posição do cateter venoso central e detectar pneumotórax?


✅ 2. Critérios de inclusão

  • Estudos com dados suficientes para reconstrução de tabelas de contingência 2×2.

  • População: pacientes críticos com CVC.

  • Comparação direta entre ultrassonografia e radiografia de tórax para:

    • Confirmação da posição do CVC;

    • Detecção de pneumotórax.

  • Publicações de 1990 a 2016, incluindo resumos de congressos relevantes.


❌ 3. Critérios de exclusão

  • Não especificados claramente no corpo do artigo, mas indicam na Digital Content 5 (não disponível no PDF carregado) que estudos sem dados para 2×2 ou sem dados comparativos foram excluídos.


📋 4. PICOTT

Elemento

Descrição

P

Pacientes críticos com CVC recém-inserido

I

Confirmação por ultrassonografia à beira-leito (cardíaca + pulmonar)

C

Radiografia de tórax pós-procedimento

O

Diagnóstico de malposição do CVC e presença de pneumotórax

T (tipo)

Estudos observacionais, incluindo prospectivos e retrospectivos

T (tempo)

Publicações entre 1990 e junho de 2016


🔍 5. Checklist PRISMA 2020 – Avaliação crítica

Seção

Itens Relevantes PRISMA

Avaliação

Título

Identifica claramente como revisão sistemática e metanálise

✅ Sim

Resumo

Estrutura resumida presente, mas sem seguir modelo PRISMA Abstract

⚠️ Parcial

Introdução

Racional e objetivo explícitos

✅ Sim

Métodos



- Critérios de inclusão/exclusão

✅ Sim


- Fontes de informação (PubMed, EMBASE, etc.)

✅ Sim


- Estratégia de busca (detalhada em anexo digital)

⚠️ Parcial


- Processo de seleção dos estudos

✅ Sim


- Extração de dados (dois revisores + padronização)

✅ Sim


- Avaliação de risco de viés (QUADAS-2)

✅ Sim


- Medidas de efeito (sensibilidade, especificidade, LR)

✅ Sim


- Heterogeneidade e modelo estatístico

✅ Sim


- Subgrupos e sensibilidade

✅ Sim


- Viés de publicação

❌ Não avaliado (justificado por n pequeno)


Resultados



- Diagrama de fluxo da seleção de estudos

✅ Sim


- Características dos estudos incluídos

✅ Sim


- Avaliação individual de viés dos estudos

✅ Sim


- Resultados dos estudos e metanálises

✅ Sim


- Análise de subgrupos

✅ Sim


- Análise de sensibilidade

✅ Sim


- Viés de publicação

❌ Não


- Avaliação da certeza da evidência

❌ Não reportada


Discussão



- Interpretação geral

✅ Sim


- Limitações da evidência

✅ Sim


- Limitações do processo de revisão

✅ Sim


- Implicações clínicas e para pesquisa futura

✅ Sim


Outras informações



- Registro e protocolo

❌ Não registrado


- Apoio financeiro

✅ Sim


- Conflito de interesse

✅ Sim


- Dados públicos

❌ Não informado



📊 Resultados-chave (Resumo)

Desfecho

Valor Pooled

Sensibilidade do ultrassom para malposição

0.82 [0.77–0.86]

Especificidade

0.98 [0.97–0.99]

LR+

31.12 [14.72–65.78]

LR-

0.25 [0.13–0.47]

Sens. pneumotórax

~100% (em 4 estudos com dados completos)

Especificidade pneumotórax

100%

Tempo para confirmação

US: 5,6 min vs. RX: 63,9–143,4 min

Feasibilidade US

96,4–100%

Confiabilidade interobservador

~94,5% (kappa)


🧠 Take-home messages

  • A ultrassonografia à beira-leito é eficaz e rápida para confirmar a posição do CVC e detectar pneumotórax.

  • Tem potencial para substituir a radiografia em muitos contextos clínicos.

  • Sua sensibilidade para detectar malposição não é perfeita: 1 em cada 5 malposições pode ser perdida.

  • A técnica ideal inclui visualização vascular e cardíaca, com flush salino rápido (contrastado ou não).


⚠️ Limitações do estudo

  • Heterogeneidade estatística alta (I² > 70%);

  • Alto risco de viés em parte dos estudos;

  • Falta de registro no PROSPERO;

  • Definição de malposição do CVC é debatida;

  • Viés de publicação não avaliado.


Reflexão final:

A incorporação da ultrassonografia como método de liberação do CVC à beira-leito representa um avanço relevante na prática clínica, permitindo confirmação segura e imediata da posição do cateter e exclusão de pneumotórax sem necessidade rotineira de radiografia. Mas quem são os pacientes na nossa prática clínica candidatos a liberação apenas com ultrassom? E aqui vai uma opinião de especialista.

Ainda faltam dados que suportem a conduta de dependermos apenas do ultrassom em 100% dos casos. Porém, em pacientes estáveis, com procedimento sem intercorrências, ausência de ventilação mecânica e achados ultrassonográficos compatíveis (deslizamento pleural bilateral e sinal de turbilhonamento atrial), a radiografia pode ser omitida com segurança.

No entanto, em casos com instabilidade hemodinâmica, dificuldade técnica ou suspeita clínica de complicações, e presença de ventilação mecânica, a radiografia torácica continua sendo indicada.

Claro, a decisão deve ser individualizada, considerando o contexto clínico, a experiência do operador e os protocolos institucionais da sua realidade. 

 

Referência:

 Ablordeppey et al. "Diagnostic accuracy of central venous catheter confirmation by bedside ultrasound versus chest radiography in critically ill patients: A systematic review and meta-analysis." Crit Care Med. 2017 Apr;45(4):715–724. DOI: 10.1097/CCM.0000000000002188

 

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