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Ultrassom pulmonar: um resumo do Consenso Internacional de Ultrassom Pulmonar

A mudança de paradigma

Gabrielle Turnes

2 de mai. de 2025

Durante décadas o dogma era claro: pulmão normal = ar → ar não conduz ultrassom → ultrassom pulmonar não serve.

Na década de 90, o intensivista francês Daniel Lichtenstein começou a provar o contrário: pequenos artefatos pleurais se comportavam de forma distinta entre pulmões sadios e doentes. A sequência de estudos culminou, em 2008, no protocolo BLUE (Bedside Lung Ultrasound in Emergency), que demonstrou uma acurácia aproximada de 90 % do ultrassom em diferenciar as cinco principais causas de insuficiência respiratória aguda na emergência.

Muitas publicações e quatro anos depois, 28 especialistas de oito países publicaram o 1.º Consenso Internacional de Ultrassom Pulmonar — documento com 73 recomendações que padronizou terminologia, técnica e indicações em no ultrassom pulmonar. ​


Principais recomendações do 1.º Consenso:

Domínio

Recomendação

Nível de Evidência / Força

Observação prática

Terminologia

Linhas B definidas como artefatos verticais laser‑like que partem da pleura, alcançam o fundo da tela e acompanham o lung sliding.

N/A / Forte

Abandona termos “comet tail”, “lung rockets”.​

Técnica de varredura

Escaneamento padrão de 8 zonas (2 anteriores + 2 laterais por hemitórax); métodos de 2 e 28 zonas são aceitáveis em contextos específicos.

A / Forte

Facilita comparabilidade entre estudos e prática clínica.

Pneumotórax

Ausência de lung sliding + ausência de linha B sugerem; Presença do Ponto Pulmonar (lung point) confirma e delimita extensão.

A / Forte

US superior ao RX supino para descartar e confirmar.

Pneumotórax

No doente supino, iniciar varredura nas áreas anteriores e avançar lateralmente.

A / Forte

Maximiza sensibilidade.

Síndrome intersticial

≥ 3 Linhas em um espaço intercostal = região positiva; ≥ 2 regiões positivas bilaterais = interstício difuso.

B / Forte

Diferença rápida entre congestão cardíaca e causas respiratórias.

Consolidação

Consolidação = imagem subpleural hipoecogênica ou pulmão “hepatizado”. Broncograma aéreo dinâmico sugere pneumonia; padrão avascular sugere atelectasia obstrutiva.

A / Forte

US tão preciso quanto RX para detectar e caracterizar.

Pleural

Imagem anecoica + sinal sinusoidal → derrame livre; ecos internos indicam exsudato/hemotórax.

A / Forte

US > RX supino; similar a TC para detecção.

Monitorização

Contagem de Linha B semiquantifica congestão em IC e monitora resposta à terapia.

A / Forte

Redução nas linhas = reaeração.

SDRA / LPA

Distribuição não homogênea de Linha B,consolidações anteriores e pleura irregular diferenciam de edema cardiogênico.

B / Forte

Guia ajustes de PEEP e recrutamento.

Neonatos

Achados do adulto se aplicam; US tão acurado quanto RX para SDR e taquipneia transitória (padrão “double‑lung point”).

B / Forte

Evita radiação em recém‑nascidos.

Pediatria

US é alternativa confiável ao RX para diagnosticar pneumonia em crianças.

A / Forte

Especialmente útil em cenários com limitação de RX.

Treinamento

Exames de pneumotórax, síndrome intersticial e consolidação são considerados técnicas básicas com curva de aprendizado curta.

C / Fraca

Reforça necessidade de treinamento estruturado inicial.

 

Take‑home messages ― Versão Consenso LUS

  1. Linguagem comum: A‑lines (Linhas A), B‑lines (Linhas B) e lung sliding (Deslizamento pleural) são as palavras‑chave.

  2. Recomendações fortes (GRADE): evidência robusta apoia LUS em edema, pneumonia, pneumotórax e monitoração.

  3. Técnica 8‑zonas: o mínimo para uniformizar estudos e garantir cobertura do pulmão.

  4. Treinamento focado: 25 a 30 casos supervisionados

  5. Ponto de virada: depois de 2012, falar em avaliação respiratória sem ultrassom é falar uma língua incompleta.

 

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Referências

  1. Lichtenstein DA, Mézière G. Relevance of lung ultrasound in the diagnosis of acute respiratory failure: the BLUE protocol. Chest. 2008;134(1):117‑125. doi:10.1378/chest.07‑2800

  2. Volpicelli G, Elbarbary M, Blaivas M, et al. International evidence‑based recommendations for point‑of‑care lung ultrasound. Intensive Care Medicine. 2012;38(4):577‑591. doi:10.1007/s00134‑012‑2513‑4

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